segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

EUVÍ: O que diabos é Estado laico?




[caption id="" align="aligncenter" width="470"] Antes era obrigatório, posteriormente passou a ser aceito, hoje é tolerado, aproveitem enquanto ainda não é proibido.[/caption]

Estado laico


Definição

Também conhecido como Estado Secular, o Estado Laico é aquele que não possui uma religião oficial, mantendo-se neutro e imparcial no que se refere aos temas religiosos. Geralmente, o Estado laico favorece, através de leis e ações, a boa convivência entre os credos e religiões, combatendo o preconceito e a discriminação religiosa.

Características

Desta forma, no Estado laico, a princípio, todas as crenças são respeitadas. Não há perseguição religiosa. Em alguns países laicos, o governo cria normas para dificultar manifestações religiosas em público. O Brasil é um país com Estado laico, pois em nossa Constituição há um artigo que garante liberdade de culto religioso. Há também, em nosso país, a separação entre Estado e Igreja.

[caption id="" align="aligncenter" width="290"] Quem viver verá.[/caption]

Leigo


Leigos são pessoas que não possuem conhecimento aprofundado sobre determinada área. Na modernidade, o termo se estendeu a nível geral, sendo usado em praticamente todas as áreas humanas, mas em sua origem referia-se ao povo que, segundo determinada elite religiosa, não possuía todos os conhecimentos necessários para determinadas funções dentro da organização religiosa, fazendo parte, portanto, de uma hierarquia.



Outro dia passei pela estação de metrô da Central. Logo após as catracas me reparei com uma imagem de Nossa Senhora que teria sido doado por alguém para a estação. Ao lado da imagem estava uma senhora de olhos fechados com as mão tocando o vidro que a protegia e provavelmente rezando. Ao terminar de fazer as suas preces aquela senhora pegou sua carteira e colocou uma nota próxima da imagem, talvez com a intenção de que algum funcionário iria pegar as notas que ali estavam para dar para alguma igreja ou instituição de caridade. Fiquei imaginando o sofrimento e a dificuldade que aquela mulher estava passando. Mesmo não sendo católico, torci para que ela fosse confortada por seja lá o que a estava aflingindo.

É interessante que todas as vezes que passei por aquela estação e me deparei com aquela imagem depois daquilo, comecei a olhá-la com outros olhos. Ainda que eu não seja uma pessoa muito preconceituosa, fico imaginando que muitos ateus e evangélicos devem se deparar com aquela imagem escandalizados. Os evangélicos por acreditarem que aquela pobre imagem feita seja lá do que é um símbolo de idolatria e os seculares por acreditarem que aquela imagem violaria a laicidade estatal.

[caption id="" align="aligncenter" width="600"] A visão real do que a mídia diz.[/caption]

Ao sair do metrô eu acabo por vezes pegando um trem, onde pregadores evangélicos bradam discursos de proselitismo religioso para quem não está interessado a ouvir. No trem, em várias oportunidades eu escutava uma coisa ou outra de crítica àquele ato, mas nada que não fosse falado em outros lugares. Depois de algum tempo, por ordem judicial, ficou proibida a pregação de teor religioso nos trens com multa de mil reais para os transgressores. Ainda assim, houve quem pouco se importasse com a lei e continuasse a pregar, mas numa periodicidade bem inferior a de antes.

Vivemos num momento onde a religião não só agride as outras pessoas, mas também viola os direitos delas. Em todo o mundo aparecem leis que visam a mitigar a influência e a liberdade que os grupos religiosos tem de praticar suas crenças. Eu sempre imaginei que o estado é laico não se constituía na eliminação dos símbolos religiosos, mas na tolerância aos mesmos. A intolerância dos símbolos e valores religiosos de uns são passados para outros e conforme o passar do tempo, cria-se uma espiral de intolerância onde o desrespeito se torna o que há de melhor e mais normal.



Existe uma tendência secular de encarar tudo o que é religioso como ruim, inclusive se não é ruim. Grupos religiosos até antes respeitados foram completamentes taxados negativamente pela opinião pública. De um dia pro outro, padres que eram tão respeitados antes viraram motivo de piada por causa de vários casos de pedofilia e as opiniões do Papa a cada dia que passa são mais distorcidas negativamente pela mídia. Além do mais, a própria imprensa passa a ter uma cobertura ainda mais parcial do conflito israelense, tendo muitos setores da mídia até já tido exagerado e safadamente comparado as ações de defesa de Israel contra os palestinos com o Apartheid e - vejam só - com o Holocausto.

Na escala da desonra os evangélicos são os mais marginalizados, e infelizmente, muitas vez merecidamente. Outro dia escutei de um colega que os grandes culpados da eleição de um político era devido ao "voto evangélico". Estranhei porque o tal político foi eleito com a maioria esmagadora dos votos, de modo que mesmo se todos os crentes tivessem votado no seu opositor, ainda assim ele venceria. Um amigo meu irreligioso defende abertamente que o principal problema do congresso é a bancada evangélica e que deveria ser proibido aos evangélicos se elegerem a um cargo público. Parece engraçado e é. Culpar as minorias por males da maioria é o principal sinal de uma sociedade estratificada.



Os seculares inegavelmente sofrem bastante preconceito. Eu conheci um senhor muito sorridente e otimista, que era religioso. Mais tarde descobri que seus três filhos, já com uns 20 anos cada, eram ateus. Eu então perguntei por acaso como era o comportamento dele para um de seus filhos, que me disse que não havia relação alguma. Segundo ele, seu pai entrava em casa sorridente, dava um beijo e tapinha nas costas de todo mundo e só. O homem religioso mal falava com seus filhos, pois achava que qualquer assunto seria alimento para discórdias numa família que não concordava em nada. Esse senhor já morreu inclusive, mas os filhos têm um carência paterna latente.

No entanto, nenhum povo sofre mais preconceito do que o povo mulçumano. Tive a oportunidade de conhecer um filho de imigrantes palestinos que a todo momento era alvo das piadas mais rasteiras que variavam entre menções à ataques terroristas e piadas com peculiaridades da religião islâmica. O rapaz aparentemente já havia se acostumado com os achincalhos e com as interpretações equivocadas que os outros faziam sobre o Alcorão. Ele me disse que tudo piorou depois dos ataques de 11/09 e que evidentemente, a maioria da população islâmica honesta não merecia ser tratada como animais irracionais.

[caption id="" align="aligncenter" width="300"] O sonho delirante de um monte de gente.[/caption]

Atualmente o mundo está vendo o crescimento do neo-ateísmo, uma modalidade mais radical do secularismo que não esconde críticas racionais e afiadas indiscriminadamente a maioria das principais religiões. Em muitos países os militantes do secularismo estão fazendo da laicidade estatal pretexto para levantar uma guerra declarada a todos os símbolos religiosos. Se por um lado sempre tivemos um ateísmo como posição filosófica onde não se crê em deus(es), modernamente tem crescido uma vertente antiteísta. Esta nova vertente tem seus "profetas", seus "livros sagrados" e "dogmas", faz proselitismo, busca novos adeptos. Como em todos os credos, há uma maioria de ateus polidos e virtuosos. Há também uma linha intolerante e, como ocorre em todas as religiões novas, mostra-se virulenta e desrespeitosa no ataque às demais. Muitos parecem até evangélicos às vezes devido a abordagem afiada em argumentos. Também não vou mentir que admiro alguns líderes notórios desse movimento pelas suas contribuições a ciência, mas muitos de seus seguidores bradam discursos inflamados de ódio contra seus opositores.

Em muitas cidades dos Estados Unidos grupos como estes vêm causando um rebuliço judicial acionando legalmente cidades para que cruzes em memória de veteranos mortos em combate sejam retiradas; declarando uma verdadeira guerra as tradições religiosas que já fazem parte da cultura, como o Natal; lutando para que menções teístas sejam retiradas das notas; colocando outdoors proselitistas do secularismo nas portas de sinagogas e mesquitas; tentando estirpar de todas as formas os valores religiosos bons e ruins de toda a cultura e vida política do país; comparando qualquer menção à princípios religiosos com uma teocracia religiosa.



O país que já foi um exemplo de liberdade hoje assiste cidades onde a pregação religiosa está proibida, sendo apenas permitida dentro dos lares. Graças às mitigações das liberdades, essas cidades possuem a mesma liberdade religiosa que existe no Irã. A laicidade estatal virou pretexto para a simples e extensiva perseguição intolerante aos credos de trabalhadores tão honestos quanto de qualquer pessoa. Na França, já é proibido o uso das burcas por meninas islâmicas nas escolas, fazendo com que elas incorram num dilema religioso para poderem estudar.

O mais interessante é que pelo menos aquilo que eu sou a favor, que é o fim de todo e qualquer feriado de origem religiosa, não causa eco no movimento secular. Vai ver os feriados religiosos são a prova de que nossa nação concorda inteiramente em pelo menos um ponto sobre a religião.

O meu país, bem antes do meu nascimento foi colonizado por portugueses católicos, que entre coisas boas e ruins, criaram os costumes e a cultura brasileira. É de se espantar que as pessoas não respeitem aqueles que varreram o chão para que eles pudessem nele se deitar.



Já existem até abaixo-assinados feitos por irreligiosos para botar a baixo o Cristo Redentor, apenas por que ele faz referência religiosa. Se o Cristo Redentor fosse o Homem Redentor é bem provável que isso jamais acontecesse. O que me surpreende é que a perseguição aos símbolos religiosos não venha daqueles que acham que eles são demoníacos ou pecaminosos, mas daqueles que acham que eles simplesmente são religiosos e isto basta para que eles desapareçam.

Segundo esse mesmo raciocínio, igrejas que hoje são patrimônio histórico deveriam então ser abandonadas. É importante frisar que já existe no congresso propostas para a regulamentação dos programas televangelísticos evangélicos, que teriam por objetivo frear o crescimento das religiões pentecostais no Brasil. Aonde houve perseguição a um grupo primeiro se tratou de desumanizar e de demonizar as crenças dos outros para depois começar uma perseguição de fato. Muitos dos militantes seculares não causam inveja aos fundamentalistas religiosos mais desordeiros, pois achincalham, desrespeitam e agridem abertamente livros e preceitos de fé de outros grupos sem o menor constrangimento com uma arrogância de quem fosse o arauto de uma verdade incorruptível.



No Brasil, já assistimos a um religioso descerebrado a chutar uma santa desrespeitosamente em pleno dia de Nossa Senhora, mas o que está por vir é ainda pior. Muito pior do que chutar uma santa é utilizar-se do Estado laico para torná-la uma refugiada proibida em ambientes públicos pelos caprichos de uma minoria tirana.  Como está escrito na própria definição de leigo do famigerado wikipédia:"leigos são pessoas que não possuem conhecimento aprofundado sobre determinada área". De fato, nosso Estado é leigo porque parece que as pessoas estão perdendo seus conhecimentos aprofundados sobre a tolerância.

O Estado laico é aquele que não age em favor de uma religião. Não é por isso que ele deve ser laicista e ditar que todos os seus habitantes também sejam todos obrigatoriamente laicos como numa ditadura soviética. Aliás, não vou nem comentar o verdadeiro morticínio de cristãos e outras minorias religiosas que acontecem em países irreligiosos como Cuba, China, Coreia do Norte, que matam cerca de 100.000 pessoas todo ano apenas devido a questões relacionadas a religião. Se a religião matava no passado, regimes irreligiosos estão se esforçando para suprimir quem pensa diferente deles violentamente enquanto no ocidente o conflito ainda é apenas cultural. Dizer que a ciência por si só é a salvação da humanidade é um falácia, pois, assim como a religião, ela pode ser usada para o bem e para o mal. Ou será que foi a religião que inventou as bombas atômicas?

Da próxima vez que eu ver uma imagem feia e inofensiva na estação de metrô eu não mais a verei como um símbolo de fé de católicos ou como um pedaço de madeira esculpido com mau gosto, mas a verei como um dos símbolos de que ainda falta alguma coisa para que a minha liberdade seja estirpada. Até porque, a liberdade do nosso próximo é a nossa liberdade. Quando perseguem a liberdade do nosso próximo é a nossa liberdade que está sendo usurpada. Se nós deixarmos pessoas honestas terem seus direitos vilipendiados apenas porque não fazemos parte do grupos do qual elas pertencem, quando chegar a nossa vez, não haverá ninguém que clame em nosso favor.

[caption id="" align="aligncenter" width="1280"] Templo da maldade para muitos.[/caption]

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