quinta-feira, 3 de janeiro de 2013
EUVÍ: Obama e os abismos da vida
Eu não gosto muito do Obama por vários motivos. Em 2008, apesar de não me encantar muito pelo carisma dele, imaginei que ele seria a pessoa certa para ser eleito o homem mais poderoso do mundo. Não mudei de ideia. A eleição de um "afro-americano" num país assolado pelo racismo era de fato algo a ser festejado por qualquer um. Na época, eu também achava que Obama faria jus a sua imensa votação e seria capaz de mudar o quadro adverso na economia como fizeram Ronald Reagan e Bill Clinton. Eu não poderia estar mais errado nesse ponto. Obama começou seu governo com maioria nas duas casas do legislativo e com um estrondoso capital político.
Assim como seu péssimo antecessor, Obama logo fez questão de socorrer a indústria automobilística e assim salvar milhões de empregos. O problema do primeiro presidente negro dos EUA foi que em seu primeiro mandato a crise econômica de 2008 causou suas maiores consequências. Não havia muita coisa que o pobre Obama poderia fazer nesse sentido. A saída encontrada pelo democrata foi aumentar a dívida e imprimir papel moeda para estimular a economia.
[caption id="" align="aligncenter" width="620"] Obama chorando pelas crianças mortas em Newtown. No entanto, o líder do mundo civilizado é também o presidente mais radical em relação ao aborto, sendo favorável ao aborto em todos os casos. Não acredito que ele derrame uma só lágrima pelos milhões de bebês que são impedidas de nascer por homens poderosos como ele.[/caption]
O que Obama não conseguiu perceber é que um dos problema dos Estados Unidos tinha era o tamanho de seu Estado depois de duas guerras fracassadas iniciadas por George Bush. O presidente democrata não tomou conhecimento da realidade econômica de seu país e resolveu gastar a maior parte de seu capital político na reforma da Saúde, mais conhecida como Obamacare.
Basicamente, a reforma estabeleceu que todo mundo que vive nos EUA está obrigado(ISSO MESMO, OBRIGRADO) a ter um seguro de saúde – quem não tiver terá de pagar uma taxa (chamada de “imposto” pela nova lei). As pessoas com renda familiar mensal abaixo de R$ 2.390 tem uma ajuda parcial do governo nos custos. Calcula-se que o plano vai incluir no sistema 30 milhões de americanos que não tinham nenhuma cobertura de saúde. A ideia é universalizar essa cobertura e também incentivar a criação de um mercado de seguradoras.
Diferentemente do Brasil, os EUA não tinha um SUS. Nos Estados Unidos, ou você pagava um plano de saúde ou precisaria ter dinheiro para pagar cada consulta e exame [o que não sai nada barato]. Em função disso, o Estado se livrava dos altíssimos custos com a saúde e para o mercado era bem mais barato contratar alguém, pois não havia necessidade por parte do empregador de prover a saúde de seu empregado.
Por lei, no entanto, os hospitais estão obrigados a atender qualquer pessoa durante emergências. Outro problema no sistema de saúde americano era que as seguradoras não eram fiscalizadas pelo governo – o que significa que elas podem alterar preços ou vetar serviços ao usuário sem precisarem prestar contas. Isso cria uma cultura em que as pessoas só procuram o hospital para se tratar quando a coisa já estava grave. A conta, no fim, ficava caríssima e os hospitais repassavam o custo para o governo e as seguradoras, que cobravam cada vez mais dos consumidores. Tudo parecia que não poderia piorar, mas piorou.
[caption id="" align="aligncenter" width="592"] Não importa o quão ruim as coisas se tornarem. A culpa sempre será do Bush.[/caption]
A universalização da saúde parecia uma excelente ideia, mas a verdade é que foi um tiro no pé. A Obamacare vai acabar aumentando os gastos das famílias com a saúde e vai aumentar ainda mais os gastos dos empregadores com os deveres trabalhistas de seus empregados. Numa época em que o desemprego estava a mais de 10%, Obama deve ter imaginado que seria uma excelente oportunidade para aumentar o gastos para quem quer empregar alguém.
Com o desemprego batendo acima dos 10%, Obama não tinha muito o que fazer para conter a crise originada no governo de Bush e muitas vezes se limitava a afirmar que havia herdado uma herança maldita - como se ele não soubesse disso antes de sua eleição. Desde 2000 até 2010, o número de americanos pertencente a classe A caiu de 40% para cerca de 22% e o número de americano na pobreza chegou aos 46 milhões.
Essa massa de indignados novos membros da classe média americana - quase todos brancos protestantes - se viu afrontada pelos dois últimos governos e criaram assim o Tea Party(Partido do Chá), um movimento popular ultraconservador que fez uma série de manifestações públicas em 2010 e foi fundamental nas eleições parlamentares de 2010. No início, o Tea Party não tinha filiação política, porém num segundo momento o movimento resolveu se embrenhar dentro do partido republicano, onde ele teria maiores chances de indicar candidatos em primárias.
Os candidatos do Tea Party nas primárias venceram os candidatos do establishment republicano jurando que JAMAIS aumentariam impostos. Obama viu em 2010 a sua maioria na câmara desaparecer e só não perdeu a maioria na câmara porque os candidatos republicanos do Tea Party foram muito radicais para vencer as eleições em Nevada, em Delaware e no Colorado. Pela primeira vez em seu governo Obama teve que negociar com uma maioria na câmara. O homem que foi eleito prometendo unir liberais e consevadores falhou miseravelmente em fazer qualquer tipo de acordo com um partido republicano influenciado pelo Tea Party.
[caption id="" align="aligncenter" width="640"] 2008:HOPE AND CHANGE- 2012:KEEP HOPING. Muito papo e pouca ação.[/caption]
Em 2008, o líder da minoria republicana na Câmara, Eric Cantor, sugeriu que Obama deveria trabalhar com os dois partidos fazendo concessões ao partido republicano para que ele pudesse governar com os dois partidos, cumprindo a sua promessa de ser um unificador. Obama, que havia acabado de ganhar uma eleição com uma diferença de 10 milhões de votos e admitia abertamente que não gostava de Cantor, fez questão de esnobá-lo e disse: "Eric, eleições têm consequências, e eu venci". Pois bem, quando o partido republicano tomou o controle da câmara em 201o eles mostraram para Obama que eleições continuavam tendo consequências e fizeram uma ferrenha oposição a Obama durante 2010 a 2012, impedindo qualquer tipo de reforma por parte do presidente. Em 2011, chegou a hora de se discutir o teto da dívida.
Obama queria que o teto fosse aumentado para que ele pudesse continuar aumentando os gastos do governo, mas os republicanos se oporam até o último segundo. O acordo que foi feito em 2011 firmava que o teto seria aumentado, mas em 2013 deveria haver um novo acordo, do contrário, haveria um automático aumento de impostos somado com cortes de gastos que viriam a prevenir o aumento da dívida. Essa situação ficou conhecida como abismo fiscal. Aí veio a eleição de 2012. O partido republicano negligenciou os candidatos radicais do Tea Party e escolheu o super moderado Mitt Romney, que tinha a fama de mudar de opinião como mudava de roupa. A economia estava péssima, mas pela primeira vez as medidas econômicas de Obama fizeram um pequeno efeito positivo, dando a impressão de que o país poderia estar no caminho certo.
[caption id="" align="aligncenter" width="680"] Obamacare e seu constante aumento de impostos em bilhões de dólares.[/caption]
A campanha de Obama fez tudo certo. Antes da eleição, Obama disse que era pessoalmente favorável ao casamento de pessoas do mesmo sexo - mesmo não falando que iria fazer nada a respeito - e dessa forma conseguiu muitas contribuições para sua campanha por parte dos liberais que estavam desmotivados. Os democratas não tinham muita coisa que eles poderiam falar que fizeram de bom. O desemprego entre jovens, mulheres e latinos aumentou desproporcionalmente e a popularidade da reforma da sáude era ínfima.
A saída encontrada foi pintar Mitt Romney como um milionário que iria defender os interesses dos ricos - e eles foram muito felizes nessa tarefa. Mitt Romney, o homem que durante toda a vida foi bem sucedido no mundo dos negócios parecia ser o homem certo para colocar o país no caminho do progresso. Ele conduziu a Bain Capital ao sucesso nos anos 90 e assim se tornou um milionário. Posteriormente, concorreu e perdeu a eleição para o senado de Massachussets em 1994. Em 1996, Romney foi chamado para salvar os jogos olímpicos de Salt Lake City, ato que fez apesar da descrença de muitos.
Em 2002 ele foi eleito governador e em 2008 disputou a candidatura republicana à presidência. Tudo apontava para uma vitória republicana em 2012. Nunca na história um presidente havia se reelegido por uma margem menor que a da sua primeira eleição. Era evidente que a magia em volta de Obama havia diminuído. Até a mídia, tão liberal, não conseguiu escapar de apontar muitas dos erros que Obama cometeu em seu primeiro mandato. O que foi decisivo para Obama foi o apoio fiel do eleitorado negro - de maioria protestante - e do eleitorado jovem, que continuaram dando ao democrata uma alta vantagem.
[caption id="" align="aligncenter" width="396"] Kate Perry em um vestido sensual e nada sugestivo. O apoio da mídia liberal e das celebridades de Hollywood foram armas poderosas que Obama teve ao seu lado em 2012.[/caption]
Em 2008, os evangélicos foram os principais atores da eleição, pois eles se recusaram a sair de casa para votar no moderado John McCain. Mais de 30 milhões de evangélicos ficaram em casa no dia da eleição e Obama venceu a eleição por cerca de 10 milhões de votos. Já em 2012, os evangélicos apaceram para votar no mórmon - e não-cristão segundo eles- Mitt Romney, no entanto, não foi o suficiente. Uma pesquisa de boca de urna da CNN divulgada que 49% dos eleitores que foram às urnas na Virgínia em 2012 eram evangélicos e mesmo assim Romney perdeu no estado.
Nas eleições presidenciais de 2008, apenas 21% dos que foram às urnas naquele Estado eram evangélicos. A eleição de 2012 mostrou uma transformação no perfil do eleitorado americano. Os valores conservadores foram derrotados em eleições vitais em todo o país e os democratas venceram eleições para o senado em todos os estados que estavam em disputa. O americano mostrou que queria aquilo que muitos evitaram no passado, a maior participação do governo na economia. A grande maioria dos americanos não acha certo gastar mais do que ganha, mas infelizmente eles votaram num presidente que não faz o mesmo com o dinheiro deles. Romney venceu entre os mais ricos, mas os mais pobres preferiram garantir os seus benefícios do governo.
Romney venceu entre os homens, porém as mulheres deram a vitória a Obama - muitos acreditam que devido à posição de Obama em relação ao aborto. Os latinos, mesmo não adorando Obama - que deportou milhares de imigrantes -, preferiram por 66% o democrata ao republicano - que era a favor da autodeportação para os imigrantes ilegais. Até os protestantes, que sempre foram maioria, se tornaram minoria no país e isso colaborou para vitória de Obama.
Em 1776, ano da Independência dos EUA, 97,6% da população eram protestantes, sendo 34,2% metodistas, 20,5% batistas, 20,4% congregacionais, 19% presbiterianos, 3,5% e 1,8% episcopais. Em 1900, os evangélicos ainda eram 90%. Em 1990, 60% da população eram evangélicos e 26,2%, católicos. Em 2004, eram 54% de evangélicos e 29% de católicos. Em 2007, 51,3% de evangélicos e 24% de católicos. Em 2008, 50% de evangélicos. Em 2012, 48%. Em 22 anos, uma queda de 12 pontos percentuais.
[caption id="" align="aligncenter" width="1600"] Brancos, velhos, religiosos, trabalhadores, escolarizados, patriotas, protestantes, conservadores e indignados. Esse é o perfil do Tea Party, o movimento que é o canto do cisne de uma geração que cresceu como maioria e hoje se vê como uma minoria barulhenta. O Tea Party simboliza tudo o que o EUA já foi e o que se tornará cada vez mais raro. Os EUA se tornarão um país mais diverso etnicamente, menos religioso, liberal e com uma população tolerante a um Estado babá.[/caption]
Na eleição de 2012, não apenas o mais liberal presidente da história dos EUA foi reeleito – um homem que apóia abertamente o aborto até o nono mês e em qualquer caso, bem como seu financiamento pelo Estado; que é o menos pró-Israel da história do país; que decretou, como primeiro ato como presidente, em 20 de janeiro de 2008, a destruição de embriões para pesquisas; que defende a maior dependência do cidadão em relação ao Estado e etc.
A maior derrota do conservadorismo em 2012 não foi em campos sociais, mas no campo econômico, pois a vitória de Obama significa que o tamanho do Estado somente aumentará. Com a vitória do democrata, a Obamacare se torna irreversível, mudando de uma vez por todas a natureza econômica do país. Obama aumentou a dívida do país em mais de 5 trilhões de dólares em apenas 4 anos - só para se ter uma ideia o infeliz do Bush a aumentou 4 trilhões em 8 anos.
Geralmente, os segundos mandatos são sempre piores que os primeiros, mas eu não me surpreenderia se o Obama quebrasse essa regra. Tudo já começou mal, com a negociação sobre o abismo fiscal. A grande discussão se dava sobre o aumento de impostos nos mais ricos - ato condenado pelos republicanos - e o corte de gastos sociais por parte do governo - ato condenado pelos democratas.
Os republicanos alegaram que aumentar os impostos para os mais ricos prejudicaria a economia, pois eles são os maiores empregadores e empreendedores do país. É bom levar em consideração que se um acordo não fosse firmado os impostos seriam aumentados para todos e que todo o país iria sofrer, pois o abismo fiscal poderia drenar 665 bilhões de dólares da economia dos EUA e jogar o país de novo na recessão. Depois de um partido colocar a culpa no outro, chegou o ano novo e um acordo não foi atingido.
Obama se comportou como o adulto na sala e com sua arrogância, que foi criticada até por democratas, conseguiu fazer com que as negociações não andassem nem um palmo. Coube ao seu vice Joe Biden virar a noite negociando com os republicanos para chegar a um acordo nos últimos instantes. O acordo que foi firmado aumenta os impostos de 35% para 40% para americanos com renda anual superior à 400 mil. Normalmente um bom acordo é quando os dois lados vencem, mas para Obama um bom acordo é quando somente ele vence.
O acordo do abismo fiscal se traduziu numa grande vitória para os democratas, pois os republicanos não ganharam absolutamente nada e ainda ficaram taxados como os intransigentes. Agora que o abismo fiscal é coisa do passado Obama vai ter que começar a cortar os gastos sociais de seu governo - caso não o faça, terá de aumentar os impostos. O presidente mais liberal da história e que mais aumentou a dívida do país agora será obrigado a cortar os pesadíssimos gastos sociais de seu governo, do contrário, terá de aumentar ainda mais os impostos para tentar sustentar a insustentável rede de proteção social.
[caption id="" align="aligncenter" width="600"] Um brinde ao presidente que foi eleito com a promessa de unir seu país e não fez nada senão dividí-lo.[/caption]
Conforme a população envelhecer, os gastos também vão subir. Além disso, os gastos com a Obamacare parece que será bem maiores do que o experado. Portanto, cedo ou tarde um presidente democrata ou republicano será obrigado a implementar as reformas para desmantelar esse aparato estatal que foi construído pelas guerras de Bush e pelo populismo de Obama. Já no campo social o americano parece se tornar irreversivelmente liberal, negligenciando cada vez mais os bons valores familiares e religiosos.
No momento em que o Estado de bem estar social começa a ruir na Europa, ele começa a ser montado nos EUA. Pouco a pouco, as políticas do Estados Unidos se parecem cada vez mais com as implementadas no velho continente. A cada ano que passa os princípios da conservadora Constituituição Americana de 1776 perde popularidade e a liberal Constituição Francesa de 1789 ganha forma no governo americano.
Não vai durar muito tempo para que os Estados Unidos não só imite a Europa em suas medidas, mas também seja atingido pelas consequências provocadas por elas. Se o Obama ganhou o prêmio Nobel da Paz em 2008 sem ter feito nada de extraordinário, hoje, passados 4 anos e tendo continuade sem ter feito nada de extraordinário, parece que não poderia merecer menos a sua ilustre premiação. Obama, sem sombra de dúvidas, é um melhor candidato que presidente.
Quem sabe depois que ele sair da Casa Branca ele não possa ser eleito num tipo diferente de eleição - não escolhida pelo povo, mas pela história -, a eleição de pior presidente da história.
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