segunda-feira, 8 de abril de 2013

EUVÍ: Marco Feliciano, John Lenon, Mamonas Assassinas e a afronta a deus


Nos últimos dias eu fiz bastantes comentários aqui no blog sobre a polêmica envolvendo o deputado Marco Feliciano. Devo admitir que não me arrependo de nenhuma das minhas análises ponderadas e pragmáticas sobre o que acredito que seja um verdadeiro caso de bullying escancarado contra o deputado. Outra coisa que devo reconhecer é que sempre frisei que o deputado não era compatível com o exercício da presidência da Comissão de Direitos Humanos, tampouco com a função parlamentar.

O que me causou mais asco foi a campanha de difamação que tentava pintar Feliciano como um racista, sexista, homofóbico e um fundamentalista religioso. Na realidade, sempre defendi que o deputado não era nem racista, nem homofóbico, tampouco sexista; porém, confesso que por mais que acredite que o deputado seja um inofensivo Tiririca evanjegue, ele tem um péssimo perfil religioso.

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A imprensa brasileira faz questão de sempre tratar Feliciano como pastor, dando a ideia de que o deputado mistura suas funções religiosas com o seu exercício parlamentar. Associar a imagem de Feliciano com a já queimada função de pastor também faz com que boa parte da população que tem aversão aos evangélicos o veja de forma ainda mais desfavorável.

Agora a imprensa está mostrando aos poucos frases polêmicas que o deputado teria feito na sua longa carreira como pregador pentecostal. Acabei de ver um vídeo onde Feliciano diz que deus matou John Lennon por este ter falado que os Beatles eram mais famosos que Jesus. O religioso chega a dizer que os 3 tiros que mataram o cantor simbolizavam o pai, o filho e o espírito santo. Feliciano ainda disse que o vocalista da banda Mamonas Assassinas trocou deus pelo dinheiro e por isso um 'anjo" teria empurrado o manche do avião onde os cantores da banda morreram.

Não comungo das ideias religiosas de Feliciano, mas não é por causa disso que vou me opor a todos que pensam diferente de mim nessa esfera. O problema é que eu acredito em deus. Bem, na minha visão, deus não existe, ele é. Para mim, deus não é um espírito, ele é o espírito, sendo assim o mais inestudável dos seres. Logo, o deus que eu acredito não existe. Devo reconhecer que minha fé em deus me faz olhar para Feliciano com um extremo desprezo ao ver o que ele prega.

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Feliciano certamente não sabe, mas John Lennon se aproximou do cristianismo protestante durante uma fase de sua vida mais criativa, quando escreveu a música Imagine. John Lennon ainda procurou televangelistas famosos como Billy Graham e Pat Robertson para tirar dúvidas sobre a fé em Jesus, tendo posteriormente se iludido com o cristianismo.

Segundo o livro O Evangelho segundo os Beatles, Lennon passou por um período depressivo em que estava sendo perseguido pela imprensa e começou a assistir programas de pastores na tv, posteriormente escrevendo uma cara ao pastor Oral Roberts onde pedia perdão por ter dito quando jovem que era "maior que deus". Lennon largou a fé cristã apenas por causa de Yoko Ono, que era contrária a sua nova fé. Lennon antes de morrer começou a seguir religiões universalistas. Lennon teria diro que o que teria feito ele largar o cristianismo não era Cristo, mas os cristãos.

Já no caso do vocalista da banda Mamonas Assassinas, Dinho, era oriundo de uma família evangélica pentecostal, sendo filiados a Assembleia de Deus de Guarulhos. Feliciano deveria pedir desculpas em público a família de Dinho por essa afronta a pessoas que comungam da mesma fé dele.

Feliciano diz que seu deus mataria aqueles que o afrontam. Bem, se o deus dele mata aqueles que o afrontam, o meu não leva em conta os tempos da ignorância. Se o deus de Feliciano mata aqueles que pecam contra ele, o meu deus é infinito no seu perdão. Se o deus de Feliciano se esforça para que todos vão para o inferno, o meu deus fez tudo que pôde para salvar a todos.

Quando Feliciano associa as mortes desastrosas de artistas com a mão pesada de deus, ele se esquece que pessoas de fé também morrem em tragédias. Eu tinha primos evangélicos que foram a um retiro de carnaval, tendo eles morrido num horroroso acidente de ônibus onde não houve sobreviventes. Será que foi deus que os matou? Todos sabem que os bens e os males da vida atingem as pessoas independente de seus credos ou de suas integridades.

Feliciano também é conhecido por em um vídeo dizer que um fiel não seria abençoado pelo fato dele não ter dado a senha de seu cartão. Na mente do religioso, o fato de um fiel doar o dinheiro que tem e que não tem pode fazer com que deus o abençoe. Dessa forma, Feliciano vê deus como um vendedor que troca bençãos por dinheiro. As ofertas, que na minha visão só deveriam ser dadas com amor e alegria, segundo Feliciano podem ser dadas com ambição e ganância para adquirir bens materiais.

O religioso protagoniza na internet vídeos em que evidencia suas performances espetaculosas, como é o caso do Pastor Hadouken e do Pastor Pilão/Zangief. As declarações de Feliciano denunciam a total ignorância educacional e teológica que ele ostenta em seus discursos. Mas quem já teve um presidente que se orgulhava da sua falta de instrução não pode reclamar muito de um presidente de Comissão de Direitos Humanos da estirpe de Feliciano.

Jamais votaria em Feliciano, tampouco votaria nele para presidente da Comissão de Direitos humanos; porém, ele foi eleito de forma legítima, tendo o direito de exercer suas funções com probidade e com separação de suas convicções religiosas. Se Feliciano me representa? Claro que não, mas ele foi eleito pela lei e respeito o direito dele trabalhar para depois julgá-lo pelos seus atos como parlamentar, não como pastor.

[caption id="" align="aligncenter" width="619"] Sou um representante e quem não representou não me representaria.[/caption]

Se a Dilma me representa? Não, mas ela foi eleita e tem o direito de me governar. Se o Renan me representa? Não, porém ele foi eleito e deve presidir o senado. Isto é democracia. Não tenho o direito de destituir governantes legalmente eleitos apenas pelo fato de discordar deles. Posso manifestar minha insatisfação, porém não posso expulsar do congresso um deputado que representa a voz de milhares de pessoas ordeiras.

Mas por que aqueles que se levantam diariamente contra Feliciano não tiveram igual indignação contra os mensaleiros condenados? Infelizmente sou tentado a crer que é por causa do preconceito religioso arraigado na nossa cultura. Eu não vi ninguém fazer protesto em frente a igreja do Sarney, tampouco do Renan. Eu não me lembro de ver jovens sair as ruas diariamente para exigir que os mensaleiros condenados vão para prisão. Eu não me lembro de ver o governado Arrudo e o senador Demóstenes serem perseguidos por onde andavam. O que todos esses corruptos têm que Feliciano não tem? Nenhum deles é pastor.

Posso odiar Feliciano como cristão, mas como parlamentar não misturo suas visões retrógradas com o que é de seu direito por lei. Afinal, a lei vale para todos. Como religioso, Feliciano mostra que é um hipócrita errante que prega sobre um deus que se manifesta mais pelo ódio que pelo amor. Os Mamonas Assassinas e o John Lennon  podem não ter sido santos, mas Feliciano mostra a cada dia que o que ele prega é uma verdadeira afronta a deus.

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