sexta-feira, 5 de abril de 2013

EUVÍ: A reforma política e o fim de Marco Feliciano e Jean Wyllys


O Brasil em tese é uma democracia; na prática é uma medocracia. Eleitores pobres sempre votarão com suas barrigas vazias, tendo apenas em mente na hora do voto a pergunta: "Qual dos candidatos me dará mais benefícios?".

Você pode discordar, mas essa é a realidade. Meus vizinhos são militares. Em quem eles sempre votam? Em quem promete reajustar o salário dos militares. Meus primos são pobres. Em quem eles sempre votam? Em quem aumentará o bolsa-família. Minha mãe é evangélica. Em quem ela sempre vota? Em quem promete preservar os bons costumes cristãos. Meus outros vizinhos são gays. Em quem eles sempre votam? Em quem promete mais direitos para os gays. Minha tia tem um restaurante. Em quem ela vota? Em quem promete diminuir impostos.

Se você leu o parágrafo acima percebeu que na mesma sociedade que me circunda existe uma série de interesses convergentes e divergentes. Os interesses políticos da minha mãe podem bater de frente com o dos meus vizinhos gays. Da mesma forma, os interesses liberais da minha tia podem bater de frente com os interesses intervencionistas e estatistas de meus primos pobres e dos meus vizinhos militares.

[caption id="" align="aligncenter" width="475"] Tucanos agora apostam no voto distrital. Assim como a reeleição, só aprovam o que vai acabar eles.[/caption]

Seria um crime da minha mãe pensar menos nos interesses do outros e votar em quem a beneficia? Claro que não. Igualmente, minha vizinhança vota em quem os representa de forma mais intimista. Eles votam em quem querem e com base no que sabem. Todos divergem no querer e no saber, por isso eles tomam diferentes decisões.

Não é segredo que a eleição no país do futebol é um verdadeiro carnaval. Candidatos são eleitos com votos de outros, isso tira a vaga de candidatos com mais votos que são de partidos pequenos. São muitos os exemplos. Anos atrás, Lindbergh teve uma estrondosa votação, mas como estava num partido pequeno (PSTU), não somente não foi eleito, como viu candidatos com menos votos se elegerem. Quem não se lembra do Enéas que com mais de 1 milhão de votos trouxe para a câmara dos deputados 6 pessoas que receberam menos de 10 mil votos?

[caption id="" align="aligncenter" width="1024"] tipos de reforma política.[/caption]

Existe outro problema no nosso sistema eleitoral proporcional, a concentração desproporcional dos votos em certas localidades. Muitas vezes cidades populosas elegem vários candidatos com suas grandes populações, dessa forma deixando várias cidades pequenas sem nenhum representante. Às vezes existem excessões. Em 2010, Anthony Garotinho foi o deputado mais votado do Rio ( cerca de 10% dos votos válidos - 800 mil).

Como Garotinho, que é do interior fluminense, teve uma enorme votação na baixada, muitos deputados da baixada não se elegeram. Logo, a baixada perdeu deputados porque seus eleitores tinham a possibilidade de votar num candidato de outra região. Esse sistema é tão ridículo quanto dar a um carioca o direito de votar para deputado num gaúcho da fronteira. É óbvio que o gaúcho não conhece os problemas do Rio, tampouco o carioca poderia cobrar seu representante gaúcho.

[caption id="" align="aligncenter" width="830"] PT é contra o voto distrital.[/caption]

Esse sistema eleitoral proporcional só favorece aos partidos e prejudica o povo, pois 40% das pessoas não tem no congresso um representante eleito. Logo, nossa democracia não representa quase metade da população. Mas como os próprios políticos que se beneficiam dessas mazelas da democracia irão querer mudar o próprio sistema que os elegem? Através do nosso voto, cara pálida.

Atualmente existe o plano do PT que misturaria uma espécie de voto distrital misto com votos de lista fechada. Explico: Uma parte dos votos escolheria os representantes dos distritos e a outra parte seria destinada para que os partidos elegessem os membros de suas listas fechadas. Admito que é um modelo melhor que o atual. Já o plano do PSDB é - para variar - um pouquinho melhor. Os tucanalhas hoje já admitem o modelo de voto distrital - que avanço hein.

[caption id="" align="aligncenter" width="389"] Como ficaria com o voto distrital. No longo prazo, só 3 ou 4 partidos sobreviveriam e 2 disputariam o poder.[/caption]

O voto distrital não é perfeito, porém é mais coerente. No voto distrital, são divididos os estados em zonas distritais, cada uma com o direito de escolher apenas um deputado. Por exemplo, um bairro populoso como Copacabana poderia reunir votos para criar sua zona distrital e eleger seu próprio representante, enquanto que várias cidades teriam que se unir na mesma zona distrital para eleger apenas um deputado. Dessa forma, o eleitor se aproximaria de seu representante e seria mais fácil cobrá-lo e reponsabilizá-lo pelo que acontece no distrito.

O voto distrital parece uma beleza, mas para muita gente não é. Candidatos de nicho dificilmente se elegeriam numa eleição distrital, pois teriam que disputar votos com candidatos mais genéricos. Exemplo: Um pastor evangélico com 200 mil votos pode se eleger deputado atualmente, mas ele precisaria de bem mais votos para se eleger num distrito com 500 mil pessoas. Logo, o pastor teria que ter um discurso menos evangélico e mais abrangente com os interesses do seu distrito.

[caption id="" align="aligncenter" width="600"] Entenda o gerrymadering, prática que favorece sempre os partidos grandes.[/caption]

Um candidato gay seria obrigado a atender as demandas da maioria de um distrito para se eleger, não somente da comunidade gay. Um candidato que defende os militares precisaria agradar em seus atos não somente os militares. Radicais - tanto de direita como de esquerda - certamente não se elegeriam numa eleição distrital, pois o discurso radical jamais conseguiria alcançar a maioria. Assim, o voto distrital acabaria com as vozes das minorias radicais.

O voto distrital daria aos deputados uma visão menos exótica e mais alinhada com a geografia de seus distritos. Quem se beneficiaria seriam partidos capazes de aglomerar os interesses de vários grupos, como é o caso dos partidos de centro-esquerda, de centro e de centro-direita. O voto distrital também forçaria as pessoas a participarem mais da política local, sendo elas obrigadas a se filiarem aos partidos para escolherem seus candidatos nas primárias.

[caption id="" align="aligncenter" width="1000"] Manipulação do partido democrata em Illinois.[/caption]

Mas como já dizia meu amigo Mario: "Nem tudo são flores e cogumelos". Existe uma forma muito fácil de alguns partidos manipularem o voto distrital. Como? É só manipularem as regiões dos distritos (GERRYMANDER). Os grandes partidos, vendo que em determinadas regiões são mais votados, irão tentar desenhar os distritos de forma a garantir que seus candidatos mais influentes disputem distritos em que seus eleitores são a maioria. Logo, se gastaria menos dinheiro em campanhas onde o vencedor é praticamente conhecido nas primárias do partido mais influente da região. As campanhas mais caras iriam para distritos desenhados em regiões sem predomínio ideológico de nenhum partido.

Ninguém precisa ser um gênio para perceber que o voto distrital iria acabar com muitos partidos, deixando no máximo 3 ou 4 partidos fortes no cenário nacional. Isso acabaria com a figura dos atuais partidos de aluguel (partidos pequenos que se coligam a grandes para depois compor governo com eles fisiologicamente). Também ficará mais fácil para o eleitor escolher quando o número de candidatos ser reduzido.

É claro, deputados folclóricos como Jair Bolsonaro, Jean Wyllys, Marco Feliciano e Tiririca seriam apenas uma mancha de um passado idiota. A bancada evangélica seria praticamente "dizimada", só conseguindo eleger representantes em regiões onde a ideologia evangélica fosse a maioria. O mesmo aconteceria com todas as outras bancadas "temáticas".

[caption id="" align="aligncenter" width="519"] Eleições distritais de 2005 na Inglaterra. The winner takes it all!!![/caption]

Candidatos radicais teriam que disputar primárias nos grandes partidos com candidatos moderados, e se vencessem, certamente seriam massacrados por moderados nas eleições gerais. Os partidos iriam ao poucos coibir o discurso radical já nas suas próprias primárias. Resumindo, eleger um vereador ficaria mais parecido com a eleição de um prefeito de bairro e eleger um deputado ficaria mais parecido com a eleição de um senador de distrito.

[caption id="" align="aligncenter" width="200"] Vai nessa.[/caption]

O voto distrital é justo, porém se implantado, seria cabal para uma eterna hegemonia do PT. Em 2005, o voto distrital na Inglaterra deu 55% das cadeiras para os trabalhistas, mesmo tendo eles apenas 35% dos votos. Um partido como o PT, que tem cerca de 40% dos votos em toda eleição presidencial formaria maiorias tão grandes que poderia mudar a constituição sozinho. A Câmara tem 513 deputados e o partido mais votado, o PT, elegeu 80 cadeiras. No voto distrital o PT teria ficado provavelmente com 280 cadeiras.

Pensando bem, mesmo achando que o voto distrital é mais justo, prefiro ainda ficar com nossos Marcos Felicianos e com nossos Jeans Wyllyses.

[caption id="" align="aligncenter" width="342"] Extremismos alimentados pelo sistema proporcional.[/caption]

Nenhum comentário:

Postar um comentário