sexta-feira, 5 de abril de 2013

EUVÍ: Por que não proíbem religiosos de ocuparem cargos eletivos no Congresso?


Cresci e fui criado numa religião de caráter pentecostal (AD), instituição da qual me desvinculei na primeira oportunidade. Nada contra a instituição, eu não tinha o perfil. Lembro-me que quando era bem pequeno uma pessoa invadiu a igreja em que eu estava para xingar a fé das crianças, dos idosos e das famílias que lá estavam. Ninguém bateu naquele senhor, ninguém o xingou, ninguém procurou a polícia, ninguém fez nada. Os crentes lutam de joelhos, orando. O problema é quando a oração se torna o esconderijo dos covardes.

O irreligioso cansou de xingar e saiu da igreja. Me lembro que senti muito medo naquele dia, não somente por causa de ter meu local de culto violado, mas por que descobri que minha religião era totalmente e assumidamente inerte. Recordo que na época se tinha a ideia que o "homem de deus" não deveria se misturar com política, pois esta era "do mundo". Os crentes radicais adoram entregar seus direitos pro diabo e depois reclamam que estão sendo injustiçados. É um tipo curioso de sadomasoquismo que abdica dos seus direitos políticos para depois se vangloriar que está sofrendo perseguição religiosa.

Seguindo o raciocínio imbecil que me foi ensinado quando criança - a ideia de que o crente não deveria entrar na política -, uma cidade que tenha 1.000 crentes e um ímpio deve sempre ser obrigatoriamente governada e administrada por este ímpio. Dessa forma, o ímpio seria o cidadão que representaria os crentes, podendo agir contrariamente às vontades destes, que nada poderiam reclamar. Mais tarde descobri que havia muitas religiões que comungavam do mesmo desatino.

[caption id="" align="aligncenter" width="450"] Países verdes são os com IDH maior que 0,9.[/caption]

O direito a liberdade religiosa e de opinião que nós temos no Ocidente - por íncrivel que pareça - não foi criado por irreligiosos, mas de pessoas religiosas que tinham a noção de que todos devem ter suas crenças respeitadas na medida do possível. Desde a Reforma Protestante, países mais receptivos aos judeus prosperaram muito mais do que Estados que perseguiam as minorias religiosas. Não é a toa que dos 10 países com o melhor IDH do mundo, 7 sejam de matriz protestante. Não estou falando que a fé protestante seja melhor para o IDH - o que seria uma falácia -, mas que todos esses países contém uma diversidade religiosa pulsante e  tolerância religiosa como princípio basilar.

Depois da polêmica envolvendo o pastor Marco Feliciano li o seguinte comentário abaixo:
Essa confusão envolvendo o deputado Feliciano se deve a não existência de uma Lei que impeça pessoas ligadas às religiões (todas e qualquer uma) de se candidatarem a cargos eletivos. Se o país é laico, onde está a separação Igreja x Estado? Se os Srs. Deputados não atentarem para esse detalhe, a bancada (evangélica), depois de atingir a maioria, dará um GOLPE e transformará o país numa teocracia, nos moldes do Irã? 

O comentário acima ilustra de maneira transparente - e surpreendentemente educada - a ideia de que uma pessoa deve ter seus direitos políticos mitigados apenas em função de ocupar um cargo religioso. Desta forma, a pessoa que tem um cargo religioso receberia um fardo em relação aos demais e criaria-se um privilégio para o leigos à religião, que seriam os únicos aptos a ocupar cargos públicos. Parece estravagante, mas já conheci centenas de pessoas com opinião igual ao ainda mais radical a do comentário acima.

Lei que impeça pessoas ligadas às religiões (todas e qualquer uma) de se candidatarem a cargos eletivos.


Por mais que essa ideia pareça ser coerente, na prática ela é a instituição de um taliban ateísta laico. Muitas pessoas religiosas seriam proibidas por lei de votarem em pessoas que praticam e professam a mesma fé que elas - ou simplesmente qualquer outra fé. Um padre não menos cidadão que outra pessoa só por causa de sua função eclesiástica. O mesmo vale para pastores, rabinos, mediuns, monges, freiras e etc.

Se o país é laico, onde está a separação Igreja x Estado?


Todos somos iguais perante a lei. Discriminar alguém por causa de sua religião é contra a Constituição, pois é inviolável o direito à crença. O que deve haver é uma forma de criar mecanismos para impedir que religiosos venham a legislar de forma a beneficiar seus fiéis em detrimento real do resto da população. O Estado brasileiro é laico, mas não é laicista. Ele não tem religião oficial, mas não impõe aos seus habitantes que também não tenham. Somos republicanos, mas não somos republicanistas. O Estado não pode criar prejuízos para aqueles que decidiram viver com uma religião, tampouco benefícios para os mesmos.

Imagine comigo que o taliban laico conseguindo proibir a entrada de religiosos a cargos públicos, visse que o presidente se convertou ao hinduísmo, se tornando um guru nas horas vagas. Seria o presidente inapto para o exercício de suas funções apenas porque pratica ou ensina uma religião? Teria ele a obrigação de colocar sua fé acima de seu ofício? Não seria possível ele conciliar suas crenças e suas atividades?

E se ele fosse o presidente um ateu, seja convertido ou de nascença; não seria possível que ele ter uma visão tão contrária às religiões que acabasse ferindo o direito de crença de seus governados? Bem, por que os irreligiosos querem tirar os religiosos da vida pública e os religiosos não querem tirar os ateus? Nunca vi um fanático crente ou beato - e conheço muitos - que algum dia tenha sugerido que pessoas irreligiosas não deveriam ocupar cargos públicos se foram eleitas legalmente.

Proibir membros de entidades religiosas no serviço público criaria ainda mais dilemas. Por que motivos entidades religiosas teriam seus membros cerceados de atuar no Congresso Nacional e membros de outras entidades não? O que um membro de uma religião tem que o torne inapto para representar aqueles que nele votaram legalmente?

Sou obrigado a salientar que a enorme maioria dos ateus e agnósticos respeita os direitos das religiões e de seus fiéis, não querendo de forma alguma perseguir ou mitigar direitos de quem quer que seja. Porém, todo grupo tem suas excessões. Tem muita gente que não gosta de religião - e eles têm todo o direito -, gostando de colocar todas no mesmo saco sem saber filtrar o que há de bom em cada uma.

Quando esse míopes veem um avião pilotado por mulçumanos atingir dois prédios, na cabeça deles todas as religiões merecem ser culpadas. Que culpa teria o espiritismo pelos atos de mulçumanos? E o xintoísmo? E o budismo? E o judaísmo? E o cristianismo? Será que eles não conseguem ver que culpar a fé de uma pobre Testemunha de Jeová pelos crimes de um mulçumano é o mesmo que culpar um pobre ateu pelos crimes de um católico?

Além do mais, muitos irreligiosos agridem vergonhosamente o Islamismo pelos atos loucos de fanáticos a serviço do terror. Assim, culpam a fé que mais 1 bilhão de pessoas pratica de maneira pacífica e ordeira pelos atos de uma pequena minoria que interpreta o Alcorão com sangue nos olhos. O que chego a acreditar às vezes é que eles querem que um bilhão de pessoas de fato se juntem aos terroristas para que eles possam mostrar ao mundo que o Islã é realmente uma religião sanguinária. Será que eles são bobos a ponto de culpar também os crimes dos ateus ao ateísmo? Seriam igualmente estúpido acreditar nisso.

Se os Srs. Deputados não atentarem para esse detalhe, a bancada (evangélica), depois de atingir a maioria, dará um GOLPE e transformará o país numa teocracia, nos moldes do Irã? 


Chega a se cômico ver o que o medo faz com algumas pessoas. Devo salientar que pelo menos o autor desse comentário não é uma pessoa odiosa, apenas um cidadão que foi instruído para ter medo. É muito fácil pegar uma religião (o Islã) e fazer uma comparação das mais idiotas com o cristianismo evangélico, que é totalmente diferente da religião praticada no Irã.

Todos sabem que na bíblia dos crentes Cristo disse que seu reino não é desse mundo, ou seja, até mesmo o patrono dos crentes acredita que a religião e o Estado devem caminhar separados. Jesus jamais postulou a cargo público algum e negou a qualquer trono nesse planeta. O Islã é diferente. Maomé literalmente "governou" a península arábica, tendo inclusive consentido seus fiéis a participarem de guerras e não vendo com maus olhos a expansão de seu credo via espada.

O Islã, diferentemente do cristianismo evangélico, possui um código de leis chamado de Shariah, que deve ser imposto aos fiéis e até mesmo aos infiéis. Comparar as teocracias mulçumanas com os evangélicos é um ato de desonestidade intelectual. É como um anarquista achando que a monarquia e a democracia são parecidas, apenas pelo fato de serem formas de governo.

Acreditar que os evangélicos serão maioria no Brasil é uma ilusão que só quem não sabe nada de estatística pode conceber. Todos sabem que a velocidade do crescimento evangélico está caindo e tende a retroceder no futuro. Mas ainda que eles se tornassem maioria, outros países já se viram com uma maioria evangélica e não se tornaram teocracias. Repito! Não existe nenhuma teocracia evangélica no mundo! Existem países que tem maioria ateísta, sendo quase todos compostos por ditaduras comunistas que perseguem religiões. Se olharmos por esse lado, são os religiosos que devem ter medo dos irreligiosos.

Os Estados Unidos, o mais rico e mais protestante país do mundo, assegura liberdades religiosas e de opinião para todos os seus cidadãos desde que o país tinha 99% de protestantes. O mesmo poderia valer para a Austrália e Nova Zelândia, apenas citando países fora da Europa.

Caros amigos irreligiosos, não fiquem com medo dos crentes. Eles não mordem. Afinal, eles não têm essa coragem.

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