EUVÍ: O Homem da Máfia (crítica)

A expectativa é um monstro que pode acabar com os sonhos de qualquer um. Acabei de assistir O Homem da Máfia(2012) dirigido por Andrew Dominik. Não vou me alongar. Achei o filme muito decepcionante e extremamente pretensioso. O filme até tem suas virtudes. Ele é emocionante, engraçado, cheio de ação e surpresas, mas também encontra tempo para ser chato e muito lento.

A falta de uma trilha sonora deixa o filme mais realista, porém isso de alguma forma faz ele perder um pouco de sua alma. Tudo no enredo no filme faz uma alusão escancarada à situação econômica dos Estados Unidos na crise de 2008. O filme é permeado de citações e falas do Bush e do Obama. Confesso que as analogias do filme poderiam ter sido feitas de forma muito mais cinematográfica se elas fossem um pouco mais sutís.



Se você é um amante dos filmes de máfia por favor não eleve suas expectativas, caso contrário você vai se decepcionar bastante como aconteceu comigo. O filme é de máfia, mas não chega perto de um Poderoso Chefão ou de Os Bons Companheiros. O filme se passa em Boston, porém nem arranha a genialidade de Os Infiltrados. Apesar de ser um filme de máfia, ele mais parece um western lento ambientado na cidade. A história é bastante realista e talvez por isso não dê brechas para surpresas maravilhosas.

O filme é pretensioso por tentar fazer uma crítica dura ao consumismo de uma sociedade desarticulada dando exemplos muito bizarros. Por mais que o filme esconda muito do seu significado nas entrelinhas muitos dos personagens acabam entregando demais a mensagem. A cena de abertura do filme é até elegante, mas os personagens não possuem carisma algum e as consequências de seu plano são bastante previsíveis.



O filme começa com um assalto a uma casa de poker. A casa de poker é uma CLARA ALUSÃO À WALL STREET. Nela os personagens gastam o que tem e o que não tem de maneira totalmente irresponsável. Quando algo dá errado e a casa toma o prejuízo os patrões resolvem trazer o Brad Pitt para matar os responsáveis pelo assalto. O filme tem diálogos enormes que só não são nocivos devido à qualidade das atuações e ao total brilhantismo do diretor na condução das cenas.

A decadência da máfia no filme é uma clara alusão a decadência dos Estados Unidos. A ganância incontrolável pelos lucros é mostrada como tão nociva que pode acabar com qualquer instituição criminosa. É essa a ganância que é mostrada no decorrer dos acontecimentos derrubando o mercado financeiro e arrastando todo um país para a crise.



Em uma cena fascinante consumado  Cogan(Brad Pitt) torna-se conhecido por Frankie(James Gandolfini) e o dá algumas escolhas. É claro, a partir deste momento importante a noção de escolha é central para a presunção de um dos dilemas impostos pela película. O argumente apresentado é que todos nós somos agentes livres, confrontados com uma série de decisões morais. Na história a busca pelo dinheiro termina na morte de vários personagens. Isso diz muito sobre as conclusões que o filme passa.

O fime também aborda o tema do dinheiro e da sociedade lindamente. Ele mostra uma sociedade completamente desarticulada em que a única mulher que vamos ver interpreta uma prostituta e a única pessoa que é boa para dar algum apoio emocional para alguém nessa trama é o cara que no final das contas vai te matar. O personagem de Pitt é um assassino frio que não se importa em dar sua opinião verdadeira sobre toda a situação em que ele está inserido pelo fato de estar cansado e desiludido com tudo a sua volta.

As cenas se desenrolam como uma poesia e  no final do filme a morte de alguns personagens não é surpresa alguma, mas é filmada de forma muito artística. Existe bastante suspense em alguns momentos cruciais da história e ela é misturada com muitos diálogos engraçados. Apesar de contar com um bom elenco e uma boa direção O Homem da Máfia não chega nem perto dos outros filmes que abordam a temática do mundo do crime, porém ele não parece ter sido feito com esse objetivo. O Homem da Máfia mostra em sua cena final que sua história do início ao fim tem a função de tirar um retrato moral da sociedade americana em 2008 e fazer uma auto-crítica as próprias características que definem os Estados Unidos.