quinta-feira, 1 de novembro de 2012

EUVÍ: Suburbia, um seriado sobre a vida real


No Brasil, a dramaturgia sempre teve um histórico de negligenciar a população negra e pobre das periferias. Geralmente o pobre tem uma cadeira cativa apenas no núcleo de baixa renda da novela das oito, em outros casos, a vida  na "comunidade" é traduzida em histórias piegas e em clichês que estamos cansados de ver. É comum os dramas ambientados nas comunidades descambarem para a baixaria, para a violência e para a comédia.



O pobre tende a ser sempre vitimizado, como se sua vida fosse limitada pela sua renda comprometida, sendo seus dramas pessoais na maioria das vezes ignorados nas tramas.

Na maioria das novelas globais os núcleos principais giram em volta de pessoas ricas e bem abastadas, sendo que a maioria das pessoas justificam essa realidade nas novelas pelo fato de que os pobres brasileiros já estão cansados de conviver com a pobreza e as novelas seriam uma janela para uma vida bem mais interessante.

O mais interessante é que apesar de nossa população ser em sua maioria negra e parda, a maioria dos nossos personagens têm olhos azuis e vivem uma realidade que é desconhecida pela maioria da população. Os valores e a religião dos pobres geralmente são solapados pra debaixo do tapete nas novelas para dar lugar a vários ideiais liberais e "mente aberta".



Outra coisa que incomoda bastante é o tipo de beleza que a mídia nacional promove, dando um extremo valor ao cabelo liso e aos olhos azuis, apenas a pele morena passa nos atuais critérios de beleza. A beleza negra sempre foi vilipendiada pela mídia, sento o cabelo crespo e a pela negra sempre propagados como um traço esteticamente inferior.

Finalmente nasce na programação da Globo um programa que vem contar a história de uma personagem negra que vive no contexto dos pobres brasileiros. Em Suburbia acompanhamos a história de uma heroína que sai de sua cidade para ser empregada numa casa de família acima de qualquer suspeita e no final do episódio, assim como muitas empregadas, é violentada pelo seu patrão.



Suburbia vem a suprir um espaço que estava faltando na tv brasileira, essa série demorou para aparecer depois de tantos sucessos cinematográficos abordando a temática da periferia.

Graças a deus, com a ascenção da classe média, a tv deve destinar cada vez mais espaço para a beleza e cultura negra que existe no nosso país. Antes de terminar, a direção e a atuação prenderam a minha atenção por mostrar de forma bem  fiel e honesta a vida, as relações e os esteriótipos das regiões menos abastadas das cidades brasileiras.

Subúrbia conta a história de Conceição , menina do interior de Minas que trabalha em fornos de carvão com os pais. Aos 12 anos, Conceição vai para o Rio de Janeiro, fugindo do destino miserável dos pais e do risco de uma tragédia como a que matou seu irmão, vítima de uma explosão nos fornos. Embarca em um vagão de trem com uma pequena imagem de Nossa Senhora Aparecida e uma foto do Pão de Açúcar, que sonha conhecer.

Quando chega ao Rio, é confundida com um bando de trombadinhas e conduzida a uma instituição para menores. Foge e vai trabalhar como doméstica em uma casa de classe média.

Aos 18 anos, Conceição se transformou em uma bonita jovem e é acolhida por uma amorosa família de Madureira.

Os personagens são reais, seus preconceitos são reais, os diálogos são críveis, as periguetes são reais, o figurinos são reais, nenhum personagem tem cabelo liso ou se encaixa no esteriótipo de "beleza branca".

A única personagem branca que aparece no episódio é apagada, seu cabelo nem aparece, ela só vem a demontrar que aquele seriado é destinado a abordar a realidade e a beleza negra. No contexto do episódio, a branca é apenas uma cota ,assim como os negros são tidos como cotas nas produções "normais".



A direção evita mostrar o rosto do patrões, para desumanizar estes personagens ricos e focar a dramaticidade nas reações do pobres, algo que raramente é visto numa série. A produção é corajosa para denunciar as mazelas e as alegrias que as pessoas humildes tem de enfrentar na sua batalha diária da cidade até o suburbio.

A trilha sonora é altamente nostálgica, misturando os ritmos que tocam nos guetos. Me faz lembrar muito da época em que havia um baile funk do lado da minha casa, meus sonhos eram permeados por essas músicas e não era nada fácil dormir.

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